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O outro lado da história – Proprietários da Camifra desabafam o seu descontentamento com o sistema

Após a circulação da notícia de que uma indústria do ramo madeireiro havia sido multada e fechada no início da semana, a família proprietária do imóvel em que a empresa funcionava nos procurou para falar do seu descontentamento com as situações pelas quais passaram e que hoje se repetiram com o inquilino do complexo industrial.

Paulo Henrique Camilotti começou contando que a empresa foi fundada por seu pai Guilherme Domingos Camilotti há 63 anos, e que por décadas participou ativamente da construção do município, “Quando a Camifra chegou aqui não havia quase nada” falou mostrando uma fotografia antiga.


No ano de 1995 a Camifra empregou diretamente 720 funcionários, número que com o passar do tempo foi reduzindo até chegar ao fim das atividades, “paramos pois não aguentávamos mais trabalhar somente para pagar multa”, apontou Paulo como a principal causa do fechamento da empresa na qual muitos clevelandenses tiveram a primeira oportunidade de emprego e chegaram a aposentadoria.

Além do relato do Paulo Henrique, o também proprietário Emanuel Camilotti, explicou que apesar de sempre trabalharem se adequando as leis e exigências dos órgãos competentes, os problemas nunca tinham fim, pois com o passar dos anos os moradores foram chegando nos arredores da empresa, passando inclusive a área se chamar bairro Camifra em referência a empresa que já estava lá, e os moradores começaram a se incomodar com os ruídos vindos da produção e também com a fumaça, aí começaram a aparecer as denúncias e até abaixo assinados contra a empresa. “Acontece que estamos aqui a 63 anos, sempre trabalhando regularmente, sempre foi fornecido todo e qualquer documento requerido, por prefeitura, IAP, IAT, Ibama e etc, porém oque não existe mais na nossa cidade é bom senso,
Já fomos vítimas de abaixo assinados, reclamações e tudo mais, sempre com iniciativas tomadas por pessoas que vieram “ontem” morar aqui perto, e que não se importam em nada com as famílias que aqui trabalham e trabalharam todo esse tempo.”
, escreveu Emanuel numa rede social.

Segundo explicação dos operadores da indústria a fumaça de que tanto reclamam os vizinhos acontece apenas no início do fogo nas caldeiras, “é como um fogão a lenha ou churrasqueira, faz fumaça quando está acendendo o fogo, o vento alastra e logo fica pouca coisa” explicou um ex-funcionário.

A Camifra encerrou suas atividades em 2015, fazendo com que os aproximadamente 300 funcionários que trabalharam em três turnos, entrassem para as estatísticas dos desempregados em Clevelândia, e ainda assim continuou sendo alvo de reclamações da comunidade aos arredores, “no último réveillon não tocamos o apito como já era tradição de décadas, pois até disso reclamavam”, relembrou Paulo Henrique.

Há um mês os proprietários do imóvel que mesmo fora de atividade contribui com aproximadamente 30 mil reais em IPTU anualmente para o município, locaram as dependências para uma empresa do ramo madeireiro que já estava empregando 30 trabalhadores, porém a referida empresa não conseguiu até o momento a liberação do alvará de funcionamento fornecido pela prefeitura municipal, documento que é o primeiro passo para que as demais licenças possam ser solicitadas, o município necessita de laudos técnicos para aprovar o funcionamento e a indústria contratou uma empresa especializada na vistoria e emissão dos laudos para este fim, a documentação final apontou que tudo estava dentro da legalidade mas o município não aceitou alegando que a Secretaria do Meio Ambiente é quem tem que fazer a vistoria e emissão dos laudos, porém a ação por parte do órgão não aconteceu e coincidentemente neste período a indústria foi denunciada por estar trabalhando de maneira irregular.

Tanto os responsáveis pela empresa que locou o imóvel quanto os antigos proprietários da Camifra dizem estar descontentes com os rumos que a situação tomou pois acreditam que com um pouco mais de empenho e dedicação por parte do município não somente os 30 postos de trabalho poderiam ser mantidos como muitos ainda poderiam ser criados. “Maior vergonha para o nosso município, prefeitura não aceitou nossos laudos técnicos sobre emissão de ruídos e gases, e dps nos denunciaram dizendo que estamos fora do padrão de operações, estamos sendo tratados como bandidos por estarmos tentando gerar empregos nessa cidade.”, escreveu um responsável pela empresa.

“Será que pararam para pensar nas famílias dos colaboradores que estão trabalhando a noite para garantir o sustento das famílias durante o dia, e a geração de empregos como fica? Hj olho para fora e não vejo mais as pessoas chegando para trabalhar e isso me deixa mto triste, alguns dias atrás atendi mtas pessoas que queriam deixar currículos, mensagens perguntando sobre o vagas de emprego, via a felicidade no rosto de cada um qdo conseguia uma vaga, talvez as pessoas que simplesmente vem aqui multa e fecha não seja capaz de se por no lugar do outro, em dias tão difícil pelo qual estamos passando peço mais EMPATIA, difícil conseguir dormir a noite sem pensar que amanhã levantarei para trabalhar normalmente, enquanto 30 famílias estão desesperadas porque perderam seu emprego e precisam sustentar suas famílias, mas como farão isso agora?”, escreveu uma colaboradora da Camifra no Facebook nesta quarta-feira.

Simone Favretto Camilotti, também proprietária da Camifra questionou a falta de empatia e reconhecimento deixando a pergunta “Quem nunca teve nesses 63 anos alguém da família ou algum amigo que teve um emprego direto ou indireto da Camifra?”

A indignação dos empresários não pode ser diferente a de muitos clevelandeses, que apontam a falta de incentivo do poder público, e o processo burocrático aliado a demora por soluções e respostas como principal causa do crescimento do desemprego no município.
E a indústria madeireira que tanto contribuiu com a história do município merece um olhar mais atento e solidário por parte das autoridades.

Por Aline Meyer – Fotos: Arquivo pessoal